Vehement 1 - Mahafsoun
Sou sólido como a rocha nativa da mais alta montanha
Sólido por fora nesta minha agreste antipatia e bruta antissociabilidade
Por dentro é que tenho verdadeiramente uma frágil imagem
Uma imagem moldada cada vez mais pelo vazio fora de mim
Um vazio que se traduz na frieza de minha cama a cada noite
Um vazio que se introduz na sala de estar sempre silenciosa
Um vazio que se esmera em ser traduzido pelas paredes do meu quarto
Um vazio mesmo entre a multidão de toda rua indo para todo lado
Um vazio trazendo marés que me chamam pelo nome correto
Cada maré sendo aquela que me afoga nos ossos de meu Ontem
Cada maré sendo aquela que me afoga nas lápides do meu Hoje
Cada maré sendo aquela que me afoga nos cemitérios do meu Amanhã
Cada maré sendo aquela que me afoga na chuva que a alimenta
E chove sempre lá fora
Chove sempre aqui dentro
Chove sempre em qualquer lugar para mim
E as marés preenchem cada uma das mil solidões de minha alma
Cada uma conto cortando meus pulsos
Vehement 2 - Mahafsoun
Tudo lá fora comemora alguma coisa de bom ou ruim
Eu aqui dentro nada comemora
Tudo lá fora sorri de alguma forma para algo ou alguém
Eu aqui dentro nunca sorrio
Tudo lá fora brinca com alguma coisa fofa ou tola
Eu aqui dentro nunca brinco
Tudo lá fora procria de algum modo humano ou desumano
Eu aqui dentro abomino a procriação
Tudo lá fora foge de algum modo do frio e da escuridão
Eu aqui dentro amo o frio
Eu aqui dentro me casei com a solidão
Solidão amiga trazendo marés que abençoam o meu gélido coração
Solidão amante trazendo marés que beijam os meus sombrios sonhos
Solidão mãe trazendo marés que afagam o meu gélido rosto
Solidão pai trazendo marés que protegem a minha sombria alma
Solidão irmã trazendo marés que abraçam o meu gélido corpo
Solidão conhecida trazendo marés que nunca julgam as minhas sombrias escolhas
Solidão desconhecida trazendo marés que sempre aumentam o gélido em mim
E duas mil vezes sou frio com todos
Duas mil vezes sou sombrio com tudo
Duas mil vezes sou frio por natureza
Duas mil vezes sou sombrio por vocação
Duas mil vezes sou frio a cada dia
Duas mil vezes sou sombrio a cada maré
Maré em maré batendo em mim para me sacudir no túmulo onde estou
Vehement 3 - Mahafsoun
Afogado como o solitário mar das ilusões eu estou
Afogado como o solitário barco das mentiras eu estou
Afogado como o solitário navio das verdades eu estou
Afogado como a solitária ilha da infelicidade eu estou
Afogado como o solitário peixe das profundezas eu estou
Afogado sou como iludido ser
Afogado sou como mentiroso ser
Afogado sou como verdadeiro ser
Afogado sou como infeliz ser
Afogado sou como profundo ser
Estou sem as chaves
Estou sem as partes
Estou sem as saídas
Estou sem as idas
Estou sem as pedras
Eu sou uma chave para portas solitárias
Eu sou uma parte de mundos solitários
Eu sou uma saída para suicídios solitários
Eu sou uma ida para infernos solitários
Eu sou uma pedra para águas solitárias
Eu estou no livro que Deus escreve sobre o cadáver Dele mesmo
Eu sou no livro que o Diabo escreve sobre o Cadáver de Deus
Eu estou
Eu sou
Eu estive
Eu fui
Eu estarei
Eu serei
Sempre três mil vezes filho de três mil solidões em marés oniscientes onipotentes e onipresentes que me afogam
Há treze mil e dezoito anos estou assim
Em mais treze mil e dezoito anos serei assim
Pela Eternidade estou sou assim
Inominável Ser
TRÊS MIL VEZES
NADANDO
SOZINHO